segunda-feira, 25 de outubro de 2010 | By: Inara Vechina

sentidos



fecho os olhos.estou em uma sala com pessoas que não conheço, com um cara falando outra lingua, com uma mulher que arruma meus ombros.

eu lembro das troianas.

em outra lingua sinto que a dor não está fora, o trágico está latejando, está em mim.


Make a sound! Make a sound!

eu não entendo mas eu grito.no grito eu vejo o azul, os portões de ferro.eu sinto o cheiro de restos. o gosto que me obrigam a engolir ficou marcado na minha garganta.

eu ouço passos mas não posso abrir os olhos.me cegaram para me fazer cantar.

chacoalha, chacoalha.

Olhe para sua dor.Veja todos os detalhes.Onde você está?Quem participa dessa cena?

Tróia está atrás das suas camadas.Volte para lá, Você precisa voltar.

SÁBADO 16.10

Sabadão

Encontro alguns troianos no metro, espero, por outros.

Sol. Alongamento. Aquecimento: pega-pega pelo espaço. A cada passo uma descoberta. Esconde-esconde. O troiano encontrado não poderia ser denunciado. Silencio! Disfarça!

Outro exercício: corredor de gente, um dos companheiros corre de olhos fechados. Não estamos concentrados, não estamos unidos! Um tombo e o grupo passa a se perceber melhor.

Mais um: contar até trinta. Detalhe: cada um fala um numero e quando dois falam ao mesmo tempo, a contagem recomeça. Chegamos ao 18.

Agora, ação: meia-hora para apresentar o espaço para os diretores. Percurso. Muitas idéias.

Começa no portão: atrás das grades de ferro... AAAAAAAAAAHHHHHHH! E todos saem correndo. Do fundo do espaço duas troianas aparecem guiando um carrinho de ferro onde descansa uma vítima. Um guia cego salta de uma janela e dentro da sala aprendizes cegos. O guia leva o público à escada onde uma troiana em panos brancos e suja de carvão lamenta-se com uma cadeira. Mais alguns paços e toda equipe junto, atirando pedras à muralha azul imponente grega.

Almoço. Descobrindo Belém.

Voltamos. Exercícios.

Lais, Andersom e Paola se separam. Lais chora todas as dores do mundo, cai no chão, grita e conta toda sua história em uma língua desconhecida. A tragédia estava lá.

Enquanto isso exploramos cegos, a sala de aula. Exploramos os sons, as texturas. Alguns abrem os olhos mas são orientados a permanecerem cegos. Descubro na biblioteca “Ensaio sobre a cegueira” em Braille. Descubro que ficar cego é insegurança a cada passo. Será que posso? Será que devo. Descubro que ficar cego é estar muito mais atento à todos os detalhes, até aos detalhes da visão.

E para finalizar, mais 20 min para apresentação do espaço. Com a ajuda dos companheiros subo na laje e com os olhos vendados, tateio uma grade. Dessa vez não acompanhei o percurso todo.

17 hrs, fechando o espaço.

Discussão e cervejinha, vamos pensar no programa do experimento.

Em Braille?
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